CURIOSIDADES BIOGRAFICAS

* Um personagem constante em seus poemas é um pé de tamarindo que ainda hoje existe no Engenho Pau d'Arco.
* Seu amigo Órris Soares conta que Augusto dos Anjos costumava compor "de cabeça", enquanto gesticulava e pronunciava os versos de forma excêntrica, e só depois transcrevia o poema para o papel.
* De acordo com Eudes Barros, quando morava no Rio de Janeiro com a irmã, Augusto dos Anjos costumava compor no quintal da casa, em voz alta, o que fazia sua irmã pensar que era doido.
* Embora tenha morrido de pneumonia, tornou-se conhecida a história de que Augusto dos Anjos morreu de tuberculose, talvez porque esta doença seja bastante mencionada em seus poemas.


FONTE: SITE DA WIKIPÉDIA (pt . wikipedia . org)

AUGUSTO DOS ANJOS

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Cruz do Espírito Santo, 20 de abril de 1884 - Leopoldina, 12 de novembro de 1914) foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Mas muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, concordam em situá-lo como pré-moderno.

É conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, e até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários.

É patrono da cadeira número 1 da Academia Paraibana de Letras, que teve como fundador o jurista e ensaísta José Flósculo da Nóbrega e como primeiro ocupante o seu biógrafo Humberto Nóbrega, sendo ocupada, atualmente, por José Neumanne Pinto.

FONTE: SITE DA WIKIPÉDIA (pt . wikipedia . org)

AUGUSTO DOS ANJOS - BIOGRAFIA

BIOGRAFIA

Augusto dos Anjos nasceu no engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos 7 anos de idade.

Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura, influenciaria muito na construção de sua dialética poética e visão de mundo.

Com a obra de Herbert Spencer, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia Sagrada ao qual, também, não contestava sua essência espiritualística, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, se emergiam na sua época.

Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera, para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte.

Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 12 de novembro de 1914, às 4 horas da madrugada, aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de um grupo escolar. A causa de sua morte foi a pneumonia.

Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor.

FONTE: SITE DA WIKIPÉDIA (pt . wikipedia . org)

AUGUSTO DOS ANJOS - OBRAS POETICAS

OBRA POÉTICA
A poesia brasileira estava dominada por simbolismo e parnasianismo, dos quais o poeta paraibano herdou algumas características formais, mas não de conteúdo. A incapacidade do homem de expressar sua essência através da "língua paralítica" (Anjos, p. 204) e a tentativa de usar o verso para expressar da forma mais crua a realidade seriam sua apropriação do trabalho exaustivo com o verso feito pelo poeta parnasiano. A erudição usada apenas para repetir o modelo formal clássico é rompida por Augusto dos Anjos, que se preocupa em utilizar a forma clássica com um conteúdo que a subverte, através de uma tensão que repudia e é atraída pela ciência.

A obra de Augusto dos Anjos pode ser dividida, não com rigor, em três fases, a primeira sendo muito influenciada pelo simbolismo e sem a originalidade que marcaria as posteriores. A essa fase pertencem Saudade e Versos Íntimos. A segunda possui o caráter de sua visão de mundo peculiar. Um exemplo dessa fase é o soneto Psicologia de um Vencido. A última corresponde à sua produção mais complexa e madura, que inclui Ao Luar.

Sua poesia chocou a muitos, principalmente aos poetas parnasianos, mas hoje é um dos poetas brasileiros que mais foram reeditados. Sua popularidade se deveu principalmente ao sucesso entre as camadas populares brasileiras e à divulgação feita pelos modernistas.

Hoje em dia diversas editoras brasileiras publicam edições de Eu e Outros Poemas.


FONTE: SITE DA WIKIPÉDIA (pt . wikipedia . org)

AUGUSTO DOS ANJOS - CURIOSIDADES DA OBRA LITERARIA

CURIOSIDADES DA OBRA LITERÁRIA

* Um exemplar do Eu faz parte da biblioteca da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por causa dos termos científicos que Augusto dos Anjos utilizava em suas composições.
* "Eu e outras poesias" (disponível gratuitamente em PDF) é a reunião do livro "Eu" (publicado em vida) a outras poesias que foram acrescentadas postumamente à obra.


FONTE: SITE DA WIKIPÉDIA (pt . wikipedia . org)

O MARTIRIO DO ARTISTA

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,

Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetas células guarda!
Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,

Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!
Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralítico que, à míngua

Da própria voz e na que ardente o lavra
Febre de em vão falar, com os dedos brutos

Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!

ASA DE CORVO

Asa de corvos carniceiros, asa
De mau agouro que, nos doze meses,

Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes
O telhado de nossa própria casa...
Perseguido por todos os reveses,
É meu destino viver junto a essa asa,
Como a cinza que vive junto à brasa,
Como os Goncourts, como os irmãos siameses!
È com essa asa que eu faço este soneto

E a indústria humana faz o pano preto
Que as famílias de luto martiriza...
É ainda com essa asa extraordinária
Que a Morte -a costureira funerária -

Cose para o homem a última camisa!

OS DOENTES I

I
Como uma cascavel que se enroscava,
A cidade dos lázaros dormia...
Somente, na metrópole vazia,

Minha cabeça autônoma pensava!
Mordia-me a obsessão má de que havia,
Sob os meus pés, na terra onde eu pisava,
Um fígado doente que sangrava

E uma garganta de órfã que gemia!
Tentava compreender com as conceptivas
Funções do encéfalo as substâncias vivas
Que nem Spencer, nem Haeckel compreenderam...
E via em mim, coberto de desgraças,

O resultado de bilhões de raças
Que há muitos anos desapareceram!

OS DOENTES II

II
Minha angústia feroz não tinha nome.
Ali, na urbe natal do Desconsolo,

Eu tinha de comer o último bolo
Que Deus fazia para a minha fome!
Convulso, o vento entoava um pseudosalmo.
Contrastando, entretanto, com o ar convulso

A noite funcionava como um pulso
Fisiologicamente muito calmo.
Caíam sobre os meus centros nervosos,
Como os pingos ardentes de cem velas,

O uivo desenganado das cadelas
E o gemido dos homens bexigosos.
Pensava! E em que eu pensava, não perguntes!
Mas, em cima de um túmulo, um cachorro

Pedia para mim água e socorro
À comiseração dos transeuntes!
Bruto, de errante rio, alto e hórrido, o urro
Reboava. Além jazia aos pés da serra,

Criando as superstições de minha terra,
A queixada específica de um burro!

Gordo adubo da agreste urtiga brava,
Benigna água, magnânima e magnífica,
Em cuja álgida unção, branda e beatífica,

A Paraíba indígena se lava!
A manga, a ameixa, a amêndoa, a abóbora, o álamo
E a câmara odorífera dos sumos
Absorvem diariamente o ubérrimo húmus
Que Deus espalha à beira do teu tálamo!
Nos de teu curso desobstruídos trilhos,

Apenas eu compreendo, em quaisquer horas,
O hidrogênio e o oxigênio que tu choras
Pelo falecimento dos teus filhos!
Ah! Somente eu compreendo, satisfeito,

A incógnita psique das massas mortas
Que dormem, como as ervas, sobre as hortas,
Na esteira igualitária do teu leito!
O vento continuava sem cansaço

E enchia com a fluidez do eólico hissope
Em seu fantasmagórico galope
A abundância geométrica do espaço.
Meu ser estacionava, olhando os campos

Circunjacentes. No Alto, os astros miúdos
Reduziam os Céus sérios e rudos
A uma epiderme cheia de sarampos!

OS DOENTES III

III
Dormia embaixo, com a promíscua véstia
No embotamento crasso dos sentidos,

A comunhão dos homens reunidos
Pela camaradagem da moléstia.
Feriam-me o nervo óptico e a retina
Aponevroses e tendões de Aquiles,
Restos repugnantíssimos de bílis,

Vômitos impregnados de ptialina.
Da degenerescência étnica do Ária
Se escapava, entre estrépitos e estouros,
Reboando pelos séculos vindouros
O ruído de uma tosse hereditária.
Oh! desespero das pessoas tísicas,
Adivinhando o frio que há nas lousas,

Maior felicidade é a destas cousas
Submetidas apenas às leis físicas!
Estas, por mais que os cardos grandes rocem
Seus corpos brutos, dores não recebem;

Estas dos bacalhaus o óleo não bebem,
Estas não cospem sangue, estas não tossem!
Descender dos macacos catarríneos
Cair doente e passar a vida inteira

Com a boca junto de uma escarradeira,
Pintando o chão de coágulos sanguíneos!
Sentir, adstritos ao quimiotropismo
Erótico, os micróbios assanhados

Passearem, como inúmeros soldados,
Nas cancerosidades do organismo!
Falar somente uma linguagem rouca,
Um português cansado e incompreensível
Vomitar o pulmão na noite horrível
Em que se deita sangue pela boca!
Expulsar, aos bocados, a existência
Numa bacia autômata de barro,

Alucinado, vendo em cada escarro
O retrato da própria consciência!
Querer dizer a angústia de que é pábulo,
E com a respiração já muito fraca

Sentir como que a ponta de uma faca,
Cortando as raízes do último vocábulo!
Não haver terapêutica que arranque
Tanta opressão como se, com efeito,

Lhe houvesse sacudido sobre o peito
A máquina pneumática de Bianchi!
E o ar fugindo e a Morte a arca da tumba
A erguer, como um cronômetro gigante,

Marcando a transição emocionante
Do lar materno para a catacumba!
Mas vos não lamenteis, magra mulheres,
Nos ardores danados da febre hética,

Consagrando vossa última fonética
A uma recitação de misereres.
Antes levardes ainda uma quimera
Para a garganta omnívora das lajes
Do que morrerdes, hoje, urrando ultrajes

Contra a dissolução que vos espera!
Porque a morte, resfriando-vos o rosto,
Consoante a minha concepção vesânica
Há de pagar um dia o último imposto!
Começara a chover. Pelas algentes

Ruas, a água, em cachoeiras desobstruídas,
Encharcava os buracos das feridas,
Alagava a medula dos Doentes!
Do fundo do meu trágico destino,

Onde a Resignação os braços cruza,
Saía, com o vexame de uma fusa,
A mágoa gaguejada de um cretino.
Aquele ruído obscuro de gagueira

à noite, em sonhos mórbidos, me acorda,
Vinha da vibração bruta da corda
Mais recôndita da alma brasileira!
Aturdia-me a tétrica miragem

De que, naquele instante, no Amazonas,
Fedia, entregue a vísceras glutonas,
A carcaça esquecida de um selvagem.
A civilização entrou na taba

Em que ele estava. O gênio de Colombo
Manchou de opróbrios a alma do mazombo,
Cuspiu na cova do morubixaba!
E o índio, por fim, adstrito à étnica escória,
Recebeu, tendo o horror no rosto impresso,

Esse achincalhamento do progresso
Que o anulava na crítica da História!
Como quem analisa uma apostema,
De repente, acordando na desgraça,

Viu toda a podridão de sua raça...
Na tumba de Iracema!...
Ah! Tudo, como um lúgubre ciclone,
Exercia sobre ele ação funesta

Desde o desbravamento da floresta
À ultrajante invenção do telefone.
E sentia-se pior que um vagabundo
Microcéfalo vil que a espécie encerra,

Desterrado na sua própria terra,
Diminuído na crônica do mundo!
A hereditariedade dessa pecha
Seguira seus filhos. Dora em diante

Seu povo tombaria agonizante
Na luta da espingarda com a flecha!
Veio-lhe então como à fêmea vêm antojos,
Uma desesperada ânsia improfícua

De estrangular aquela gente iníqua
Que progredia sobre os seus despojos!
Mas, diante a xantocróide raça loura,

Jazem, caladas, todas as inúbias,
E agora, sem difíceis nuanças dúbias,

Com uma clarividência aterradora,
Em vez de prisca tribo e indiana tropa

A gente deste século, espantada,
Vê somente a caveira abandonada

De uma raça esmagada pela Europa!
Era a hora em que arrastados pelos ventos,

Os fantasmas hamléticos dispersos
Atiram na consciência dos perversos

A sombra dos remorsos famulentos.
As mães sem coração rogavam pragas

Aos filhos bons. E eu, roído pelos medos,
Batia com o pentágono dos dedos

Sobre um fundo hipotético de chagas!
Diabólica dinâmica daninha

Oprimia meu cérebro indefeso
Com a força onerosíssima de um peso

Que eu não sabia mesmo de onde vinha.
Perfurava-me o peito a áspera pua

Do desânimo negro que me prostra,
E quase a todos os momentos mostra
Minha caveira aos bêbedos da rua.
Hereditariedades politípicas

Punham na minha boca putrescível
Interjeições de abracadabra horrível

E os verbos indignados das Filípicas.
Todos os vocativos dos blasfemos,

No horror daquela noite monstruosa,
Maldiziam, com voz estentorosa,

A peçonha inicial de onde nascemos.
Como que havia na ânsia de conforto

De cada ser, ex.: o homem e ofídio,
Uma necessidade de suicídio

Em um desejo incoercível de ser morto!
Naquela angústia absurda e tragicômica

Eu chorava, rolando sobre o lixo,
Com a contorção neurótica de um bicho

Que ingeriu 30 gramas de noz-vômica.
E, como um homem doido que se enforca,

Tentava, na terráquea superfície,
Consubstanciar-me todo com a imundície,
Confundir-me com aquela coisa porca!
Vinha, às vezes, porém, o anelo instável
De, com o auxílio especial do osso masséter

Mastigando homeomérias neutras de éter
Nutrir-me da matéria imponderável.
Anelava ficar um dia, em suma,

Menor que o anfióxus e inferior à tênia,
Reduzido à plastídula homogênea,

Sem diferenciação de espécie alguma.
Era (nem sei em síntese o que diga)

Um velhíssimo instinto atávico, era
A saudade inconsciente da monera

Que havia sido minha mãe antiga!
Com o horror tradicional da raiva corsa

Minha vontade era, perante a cova,
Arrancar do meu próprio corpo a prova

Da persistência trágica da força.
A pragmática má de humanos usos

Não compreende que a Morte que não dorme
É a absorção do movimento enorme

Na dispersão dos átomos difusos.
Não me incomoda esse último abandono.

Se a carne individual hoje apodrece,
Amanhã, como Cristo, reaparece

Na universalidade do carbono!
A vida vemdo éter que se condensa,

Mas o que mais no Cosmo me entusiasma
É a esfera microscópica do plasma

Fazer a luz do cérebro que pensa.
Eu voltarei, cansado da árdua liça,
À substância inorgânica primeva,

De onde, por epigênese, veio Eva
E a stirpe radiolar chamada Actissa!
Quando eu for misturar-me com as violetas,
Minha lira, maior que a Bíblia e a Fedra,

Reviverá, dando emoção à pedra,
Na acústica de todos os planetas!