OS DOENTES IX

IX
O inventário do que eu já tinha sido

Espantava. Restavam só de Augusto
A forma de um mamífero vetusto

E a cerebralidade de um vencido!
O gênio procriador da espécie eterna
Que me fizera, em vez de hiena ou lagarta,

Uma sobrevivência de Sidarta,
Dentro da filogênese moderna;
E arranca milhares de existências
Do ovário ignóbil de uma fauna imunda,

Ia arrastando agora a alma infecunda
Na mais triste de todas as falências.
Um céu calamitoso de vingança
Desagregava, désposta e sem normas,

O adesionismo biôntico das formas
Multiplicadas pela lei da herança!
A ruína vinha horrenda e deletéria

Do subsolo infeliz, vinha de dentro
Da matéria em fusão que ainda há no centro,

Para alcançar depois a periferia!
Contra a Arte, oh! Morte, em vão teu ódio exerces!

Mas, a meu ver, os sáxeos prédios tortos
Tinham aspectos de edifícios mortos

Decompondo-se desde os alicerces!
A doença era geral, tudo a extenuar-se

Estava. O Espaço abstrato que não morre
Cansara... O ar que, em colônias fluidas, corre,

Parecia também desagregar-se!
O pródromos de um tétano medonho
Repuxavam-me o rosto... Hirto de espanto,

Eu sentia nascer-me n'alma, entanto,
O começo magnífico de um sonho!
Entre as formas decrépitas do povo,
Já batiam por cima dos estragos
A sensação e os movimentos vagos

Da célula inicial de um Cosmo novo!
O letargo larvário da cidade

Crescia. Igual a um parto, numa furna,
Vinha da original treva noturna,

O vagido de uma outra Humanidade!
E eu, com os pés atolados no Nirvana,

Acompanhava, com um prazer secreto,
A gestação daquele grande feto,

Que vinha substituir a Espécie Humana!