OS DOENTES VII

VII
Quase todos os lutos conjugados,
Como uma associação de monopólio,

Lançavam pinceladas pretas de óleo
Na arquitetura arcaica dos sobrados.
Dentro da noite funda um braço humano
Parecia cavar ao longe um poço

Para enterrar minha ilusão de moço,
Como a boca de um poço artesiano!
Atabalhoadamente pelos becos,
Eu pensava nas coisas que perecem,

Desde as musculaturas que apodrecem
À ruína vegetal dos lírios secos.
Cismava no propósito funéreo
Da mosca debochada que fareja

O defunto, no chão frio da igreja
E vai depois levá-lo ao cemitério!
E esfregando as mãos magras, eu, inquieta,

Sentia, na craniana caixa tosca,
A racionalidade dessa mosca,
A consciência terrível desse inseto!
Regougando, porém, argots e aljâmias,

Como quem nada encontra que o perturbe,
A energúmena grei dos ébrios da urbe
Festejava seu sábado de infâmias.
A estática fatal das paixões cegas,
Rugindo fundamente nos neurônios,

Puxava aquele povo de demônios,
Para a promiscuidade das adegas.
E a ébria turba que escaras sujas masca,
Á falta idiossincrásica de escrúpulo,

Absorvia com gáudio absinto, lúpulo
E outras substâncias tóxicas da tasca.
O ar ambiente cheirava a ácido acético,
Mas, de repente, com o ar de quem empesta,
Apareceu, escorraçando a festa,
A mandíbula inchada de um morfético!
Saliências polimórficas vermelhas,

Em cujo aspecto o olhar perspícuo prendo,
Punham-lhe num destaque horrendo o horrendo
Tamanho aberratório das orelhas.
O fácies do morfético assombrava!

-Aquilo era uma negra eucaristia,
Onde minh'alma inteira surpreendia
A Humanidade que se lamentava!
Era todo o meu sonho, assim, inchado,

Já podre, que a morféia miserável
Tornava às impressões táteis, palpável,
Como se fosse um corpo organizado!